Cresce número de técnicos formados pelo FETP– Linha de Frente no país

Subiu para 66 o número de profissionais de saúde formados pelo Programa de Formação em Epidemiologia de Campo – Linha de Frente (FETP-Frontline), após a graduação de mais 14 técnicos no dia 07 de Dezembro último, perfazendo a 5ª coorte de formação em Epidemiologia de Campo.

Falando sobre a importância da formação durante a cerimónia de graduação, a directora do FETP em Moçambique, Cynthia Baltazar, disse que a ocorrência de surtos tem sido cada vez mais frequente no país, facto que coloca vários desafios ao sector da Saúde.

“A pandemia da COVID-19 mostrou que uma epidemia pode ter impactos devastadores a nível da economia, do sistema de saúde e de todo o funcionamento do país. Por isso, precisamos, cada vez mais, de recursos humanos que estejam devidamente capacitados para responder detectar, investigar e responder às ameaças de saúde pública”, vincou.

Na mesma senda, Cynthia Baltazar orientou aos graduados a encararem o acto de encerramento como sendo o início de um processo em que eles já estão mais fortalecidos, devendo dar o seu contributo para o sistema.

“Esperamos ter um sistema de vigilância em saúde mais fortalecido e um sistema nacional mais apto para prevenir e responder as ameaças”, frisou.

Por seu turno, a coordenadora do nível de Linha da Frente, Judite Braga, explicou que o FETP-Linha de Frente é um programa orientado e baseado em competências, com foco na melhoria do conhecimento e das habilidades da epidemiologia de campo para os profissionais inscritos ao programa.

“Os participantes aprendem fazendo. Eles passam a maior parte do tempo no campo, aplicando seus conhecimentos em epidemiologia de campo, sob orientação de epidemiologistas experientes”, disse.

A coordenadora fez saber, ainda, que o programa tem duração de 12 semanas e é dividido em duas oficinas, onde os participantes são submetidos a vários temas sobre a importância da vigilância e da investigação.

“A segunda oficina de trabalho de campo tem a duração de nove semanas com intervalo de quatro a cinco, onde os participantes desenvolvem seus projectos de campo e, finalmente a terceira oficina onde os participantes apresentam na cerimónia de graduação os trabalhos do final do curso. Nesta oficina, os graduados também participam de um workshop sobre escrita científica de artigos e resumos durante dois dias”, explicou.

A médica-chefe da cidade de Maputo, Vanda Zita, referiu que as ferramentas apresentadas durante o curso, que teve como um dos maiores objectivos a melhoria da qualidade e uso de dados de vigilância para a detecção de doenças e surtos como resposta a eventos de saúde pública, por meio da capitalização dos recursos humanos, vão melhorar a informação para a tomada de decisão.

“O FETP-Linha da Frente vem num momento oportuno, tendo em conta os desafios que o país enfrenta, de uma forma geral, e a cidade de Maputo, em particular, relacionados com a ocorrência de doenças emergentes para a saúde pública, incluindo desastres naturais”, considerou.

Em Moçambique, o FETP foi estabelecido em 2010 pelo Ministério da Saúde, através do Instituto Nacional de Saúde (INS), em colaboração com a Direcção Nacional de Saúde Pública e a Faculdade de Medicina, contando com o apoio de técnicos dos Centros de Prevenção e Controlo de Doenças.

O programa é implementado com o principal objectivo de treinar profissionais para fortalecer a capacidade de resposta do Sistema Nacional de Saúde às ameaças de saúde pública, através do Lema “Aprender Fazendo”.

A nível nacional o FETP é coordenado pelo INS, em parceria com a Universidade Eduardo Mondlane (UEM). O modelo de Linha da Frente foi criado em 2015, depois da eclosão do surto de Ébola na África Ocidental.

Graduados prometem melhores respostas a ameaças de saúde pública

Com a capacitação, os graduados dizem-se melhor preparados para lidar com ameaças ligadas à saúde pública. Depois de agradecerem ao INS, FETP e ao Departamento Nacional de Saúde Pública pela oportunidade, os integrantes da 5ª turma vincaram que a formação transformou, positivamente, as suas carreiras.

O ponto focal da Vigilância Integrada de Doenças e Resposta no Serviço de Saúde da Cidade de Maputo, Luís Vilanculo, em representação dos graduados, disse que, ao longo da formação, perceberam que, antes da capacitação, caminhavam de olhos fechados, por isso há vários eventos aos quais não conseguiam responder de forma efectiva.

“Sentimos que, com esta oportunidade, já temos uma visão de como é que devemos olhar para questões relacionadas a ameaças de saúde pública na componente de detecção, investigação e resposta”, assegurou.

Márcia Jorge, médica residente em saúde pública pelo Ministério da Saúde (MISAU), também está entre os graduados. Para ela, o curso agregou conhecimentos, sobretudo na sua área de especialidade.

“Este curso veio em boa hora e vai permitir-me fazer melhor aquilo que venho fazendo. De forma geral, gostei, sendo que houve uma boa atenção por parte dos mentores, dedicação à formação, para além da comunicação que, tendo sido boa, contribuiu bastante”, disse, acrescentando que o curso ofereceu ferramentas para, diante de uma situação de surto, ela estar em altura de melhor investigar.

Para Dulce Isaías, afecta ao Centro de Saúde 1º de Maio e responsável da Vigilância Epidemiológica ao nível do seu distrito, o curso foi bastante interessante e contribuiu para o aprimoramento dos seus conhecimentos, principalmente na área de epidemiologia, pelo que se sente melhor preparada.

“Estou preparada para implementar os conhecimentos adquiridos durante o curso”, garantiu, salientando que, antes da capacitação, enfrentava constrangimentos na análise de dados, uma vez que fazia manualmente, porém o cenário vai mudar para o melhor, uma vez que já sabe que a vigilância segue um ciclo, o que, por seu turno, vai reflectir na interpretação de dados e tomada de acções de resposta.

Pela frente, Dulce Isaías diz ter o desafio de aprimorar as suas habilidades na área de vigilância, de modo a agir da melhor forma no processo de gestão de casos de grande impacto.

Os momentos mais marcantes do evento consistiram na entrega de certificados e realização de sessões científicas, nos quais os graduados apresentaram e discutiram, com os presentes, trabalhos científicos de sua autoria.

Com o encerramento da 5ª coorte, que durou três meses, tendo arrancado em Setembro último, juntando médicos, residentes, técnicos superiores de saúde pública, medicina preventiva e funcionários dos ministérios da Saúde e da Agricultura, o número total de graduados subiu para 66 em todo o país.